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A história do FIAT Uno começou em 1970, quando duas equipes italianas disputavam a aprovação de um projeto inovador de carro: de um lado, a equipe de Pier Giorgio Tronville, do Centro Stile Fiat, e do outro, a Italdesign de Giorgietto Giugiaro.
Apesar do projeto 144 de Giugiaro ser inicialmente direcionado para a marca de luxo Lancia, do Grupo FIAT, ele acabou por ser aprovado em dezembro de 79 pela própria FIAT.
Em 1982 começava, então, a produção em série do modelo que, batizado de FIAT Uno, só dois anos mais tarde chegaria ao mercado brasileiro.
A versão européia, eleita carro do ano já no lançamento, era oferecida com motores de 903, 116 e 1301 cilindros e potência de 45, 55 e 70 cavalos, respectivamente. Com motor transversal, suspensão McPherson com mola helicoidal na dianteira e feixe de molas transversal com rodas independentes na traseira, o Uno apresentava construção moderna e simples.
No Brasil, a intenção da FIAT era substituir o 147, já com 8 anos de comercialização. Lançado em agosto de 1984, o Uno nacional mantinha os traços do modelo italiano, entretanto, o capô acomodava o estepe no cofre do motor, como acontecia com o 147, economizando espaço no porta-malas.
Em 1990 o modelo já era consolidado no mercado interno, responsável pelo crescimento da marca no país, mas o grande sucesso da FIAT viria com o surgimento, em 1990, do Uno Mille, um carro verdadeiramente popular.
O grande sucesso
Naquele ano (1990), o governo Collor anunciava as novas alíquotas para a tributação do IPI para modelos automotores com motores entre 800 e 1.000 cm³, criando, assim, o segmento popular que chegou a representar mais de 60% do mercado brasileiro à época.
Veículos e projetos nacionais, como o Gurgel, que recebiam incentivo fiscal de IPI reduzido (5%) em relação aos estrangeiros (20%), passaram a amargar a alíquota comum de 10%, sofrendo, então, competição esmagadora.
A FIAT foi a primeira montadora estrangeira a responder de forma rápida e eficiente à oportunidade criada pelas novas taxas. Em apenas 60 dias após a vigência da alíquota, surgia o Uno Mille. Com o motor Fiasa readaptado para um menor curso dos pistões, em uma versão inédita de 994 cm3 do mesmo motor, com 48 cv de potência e torque de 7,4 kgfm, o Uno Mille nascia para o sucesso.
O início do Mille
Espaçoso e melhor acabado, tomava o lugar do Gurgel como carro barato e se fixava como carro econômico de melhor qualidade.
Mesmo com desempenho limitado, pouca potência e torque, o funcionamento do Uno Mille era suave para os padrões da época, sem muitas vibrações e boa resposta em rotações mais altas. A aceleração de 0 a 100 km/h era de aproximadamente 20 segundos, enquanto a velocidade máxima era de apenas 135 km/h e o consumo ficava em torno dos 12 km/l em trajetos urbanos.
Apesar de estar bem abaixo dos 22 km/l do Gurgel, o Mille desbancava-o pelo design mais moderno, acabamento melhor trabalhado e espaço muito mais avantajado.
Internamente, o Uno Mille possuía revestimento central aveludado nos bancos, colunas traseiras forradas e tampa interna no porta-malas. Como opcionais, os apoios de cabeça, quinta marcha, acendedor de cigarro, limpador traseiro e, curiosamente, o retrovisor direito.
O sucesso foi tamanho que a nova versão do Uno representava, já nos primeiros meses de lançamento, 45% da produção do modelo.
Em 92, novas regras do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) determinaram a inclusão de catalisadores para reduzir emissões de poluentes. As adaptações prejudicaram inicialmente o desempenho do Uno Mille, que passava então aos 47 cavalos e 7,1 kgmf de torque. Como uma maneira de corrigir o problema, a FIAT passou a utilizar injeção eletrônica nas versões 1.3 e 1.5 do Uno e, dado o custo elevado da tecnologia, optou pelo carburador duplo e ignição digital para o Mille, deixando o modelo com 55cv de potência e 8,1 kgmf de torque. As adaptações acabaram coroando o Uno Mille Eletronic como o 1.0 mais veloz do Brasil, com aceleração de 0 a 100 km/h em 17s.
Versões
Como vimos, o Uno Mille se beneficiou da resposta rápida da FIAT à nova tributação, mantendo-se praticamente sem concorrentes no segmento de carros populares por quase um ano e meio.
Ao final de 91, a GM e VW já reagiam à expansão da montadora italiana com o Chevette Junior e o Gol 1000, respectivamente.
Durante o tempo de recuperação das concorrentes, a FIAT lançava a versão Brio que, entretanto, seria produzida por poucos meses e sem grandes repercussões.
Após o lançamento do Mille Eletronic em 93, primeira versão a oferecer quatro-portas e ar-condicionado, a próxima grande mudança do modelo ocorreu já em 94, para enfrentar o novo GM Corsa. Chegava o Mille ELX, mais confortável e com novo design.
Enquanto no exterior o modelo ganhava frente mais baixa, nova grade e faróis mais estreitos, internamente o Uno Mille ELX também se modificava com novo painel, bancos e revestimentos mais sofisticados e nova manopla de câmbio mais justa.
No ano seguinte, todas as versões passaram a contar com injeção eletrônica e o Mille Eletronic virou i.e, enquanto o ELX passou a se chamar EP.
O Mille EP contava então com motor de 58 cavalos de potência e 8,2 kgfm de torque, ainda o mais potente do segmento. A versão estreava as rodas de liga leve e o alarme como opcionais disponíveis.
Em 97, com o lançamento do Palio, especulações surgiram sobre o fim da comercialização do Uno Mille, entretanto, no ano seguinte, a Fiat lançava uma nova versão especial, a Young, com pegada mais jovial. De duas portas, o Uno Mille Young tinha para-choque cinza, novo desenho das calotas, nova grade dianteira, novo painel de instrumentos e volante, além dos adesivos com a inscrição “Young” nas laterais e tampa traseira.
Novo motor Fire
Apesar das mudanças de estilo e aparência, o motor Fiasa duraria até 2001, quando então o Fire passava a equipar o modelo. Conquanto seu rendimento era de apenas 55cv, o motor Fire, mais leve, se destacava pelo torque de 8,5 Kgfm e pela economia, já que apresentava um consumo de até 20k/l na estrada.
Mesmo depois de anos de lançamento do Palio, o Uno Mille continuava forte. Sua aceitação pelo mercado adiava continuamente sua aposentadoria e a FIAT seguia com o projeto.
Em comemoração aos 20 anos de comercialização no Brasil o Uno passou por grande mudança no visual em 2004, com para-choques, faróis, lanternas e grades completamente novos. Apesar disso, o Mille seguia com design tradicional.
A partir de 2008 o Mille passou a oferecer a versão Economy e a aventureira Economy Way, com visual mais off-road. Reforçando sua principal característica, a economia, a versão Economy contava com pneus de baixa resistência ao rolamento, motor mais leve e com menor atrito, nova geometria de suspensão e quinta marcha mais longa. Além disso, no painel de instrumentos, o econômico guiava o motorista por uma direção mais econômica.
A despedida
Depois de vinte e três anos de história, o Uno Mille teve sua despedida em 2013 depois da decisão do governo quanto à obrigatoriedade de inclusão de airbags frontais e freios ABS como itens de série. Como as adaptações necessárias tornariam o projeto inviável, a decisão foi de descontinuidade.
Mas, para marcar o fim de uma história de sucesso, a FIAT lançou uma versão especial de despedida, a Grazie Mille. Com apenas 2.000 unidades, numeradas no painel, o Grazie Mille tinha tecido exclusivo com o nome da versão bordado; rádio Connect com CD/MP3, viva voz Bluetooth e entrada USB; nova grafia no painel de instrumentos; pedaleiras esportivas; apoios de cabeça no banco traseiro; faróis de máscara negra; rodas de liga leve com desenho exclusivo; ponteira de escapamento esportiva; adesivos Grazie Mille, frisos laterais e pintura da caixa de roda. A versão contava ainda com ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas e desembaçador/ limpador do vidro traseiro.
Ao longo de sua trajetória o Uno Mille fez história. Foi o primeiro carro 1.0 do Brasil e também o primeiro popular a oferecer quatro portas e ar-condicionado. Econômico e barato se tornou o carro chefe da liderança da FIAT no mercado nacional terminando sua jornada com mais de 3,7 milhões de unidades vendidas no Brasil e 9 milhões de unidades no resto do mundo.
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Galeria Uno Mille: